Projeto Comprova engana e omite em checagem de fatos sobre vacinas de gripe. Leia toda a troca de e-mails.

Esta análise é altamente ilustrativa para entender como funcionam os bastidores das supostas agências checagens de fatos.

Resumo rápido

  • MPV publicou uma notícia de um estudo da Cleveland Clinic (pré-print, coorte prospectiva) que indicou maior incidência de gripe entre profissionais de saúde vacinados na temporada 2024-2025, sugerindo eficácia negativa (-26,9%). A manchete destacou a ineficácia, não “aumenta o risco”.
  • Comprova respondeu com uma checagem afirmando que o estudo não concluiu que a vacina aumenta o risco de gripe, citando limitações metodológicas e uma declaração da Cleveland Clinic. Entretanto, omitiu parte da declaração da instituição, que reconheceu a maior incidência entre os vacinados no estudo.

No dia 8 de abril, publicamos uma notícia em nosso website: Vacina da gripe é ineficaz na prevenção da doença, conclui estudo da Cleveland Clinic

Alguns dias depois, no dia 15 de abril, o MPV recebeu um e-mail de Mariana Carneiro, do jornal “O Popular”, de Goiás, fazendo perguntas para uma checagem de fatos. Veja a troca completa de e-mails entre Mariana e o MPV:

15 de Abril

Oi, pessoal. Tudo bem? Boa tarde.

Meu nome é Mariana Carneiro, repórter do POPULAR e colaboradora do Comprova, projeto nacional de verificação de informações.

Estamos checando a seguinte publicação feita por vocês: 

Médicos pela Vida Oficial on X: “Vacina da gripe é ineficaz na prevenção da doença, conclui estudo da Cleveland Clinic
 

Em nota, os autores, por meio da Cleveland Clinic, informaram ao Comprova que  “os resultados não sugerem que a vacinação aumenta o risco de gripe” e sim que “a eficácia da vacina desta temporada [2024-2025] na prevenção da gripe pode ter sido limitada em profissionais de saúde relativamente saudáveis“.

Outros especialistas ainda apontaram fragilidades no estudo como, por exemplo, o fato de ser um preprint, trabalhar com uma população que não fornece condições de extrapolamento e ser um estudo de coorte prospectiva.

Gostaria de verificar se esses pontos foram levados em conta por vocês antes de fazerem a publicação e como se posicionam em relação ao assunto.

Deadline: o quanto antes

Desde já, obrigada. À disposição.

Primeira série de comentários MPV

Rapidamente, no próprio dia 15, respondemos o e-mail afirmando que daríamos, em breve, a resposta completa. A jornalista não nos deu prazo específico. “O quanto antes”, disse. Mas publicou a “checagem” já no dia seguinte, dia 16: Estudo sobre eficácia de vacina da gripe não conclui que imunizante aumenta o risco da doença : Projeto Comprova

Publicar já no dia seguinte é sinal de que o e-mail foi um fingimento em “ouvir o outro lado” como recomenda a atividade jornalística ética e de qualidade.

Mas havia algo estranho nos posicionamentos e, dois dias depois, mandamos um e-mail com dúvidas:

17 de Abril

Prezada Mariana,

Estamos tentando responder, mas não está fazendo sentido. Veja só:

Você afirmou que os autores informaram ao Comprova que “os resultados não sugerem que a vacinação aumenta o risco de gripe”.

Veja o que os autores escreveram em seu próprio estudo: “Este estudo constatou que a vacinação contra a gripe em adultos em idade ativa esteve associada a um maior risco de contrair gripe durante a temporada de vírus respiratórios de 2024-2025, sugerindo que a vacina não foi eficaz na prevenção da gripe nesta temporada”.

Há alguma confusão que vocês estão fazendo. Como eles vão desdizer, em nota ao Comprova, o que disseram no estudo?

Pode, por favor, enviar o questionamento completo que fizeram a eles e a nota completa que eles emitiram? Falta algum contexto aí.

Obrigado

Mariana nos respondeu com o texto completo da resposta da Cleveland Clinic. Realmente, eles omitiram partes importantes:

17 de Abril

Enviei um e-mail para o Dr. Shrestha pedindo por uma entrevista. Ele encaminhou meu e-mail para a Cleveland Clinic, que me respondeu com a seguinte nota:

(ela enviou o original, em inglês. Aqui já colocamos a tradução).

Declaração da Cleveland Clinic sobre o Estudo de Vacinação contra Influenza

A vacina contra influenza pode ser altamente eficaz na redução da gravidade da doença, na prevenção de hospitalizações e na minimização da disseminação do vírus, mas sua eficácia pode variar dependendo da cepa viral e de fatores individuais, como idade e condições de saúde subjacentes.

Este estudo analisou retrospectivamente a eficácia da vacina contra influenza em profissionais de saúde adultos majoritariamente saudáveis durante a temporada de gripe de 2024-2025. A revisão dos dados mostrou que a incidência de influenza foi maior entre os vacinados do que entre os não vacinados. No entanto, os dados vieram de uma população relativamente saudável de cerca de 50 mil profissionais de saúde e não representam a população em geral. É importante destacar que, dos 43 mil indivíduos que receberam a vacina, apenas um pequeno número [1.079 (2%)] contraiu influenza durante o período do estudo. A população analisada não incluiu crianças e tinha muito poucos idosos ou indivíduos imunocomprometidos. Além disso, o estudo focou apenas nas taxas de infecção e não avaliou casos graves ou hospitalizações, que historicamente são reduzidos pelas vacinas. O estudo ainda não foi publicado em uma revista científica com revisão por pares.

Os resultados não sugerem que a vacinação aumente o risco de gripe. Em vez disso, o estudo indica que a eficácia da vacina desta temporada na prevenção da influenza pode ter sido limitada em profissionais de saúde relativamente saudáveis”.

Segunda série de comentário MPV

1 – A primeira coisa a se reparar é que, na manchete publicada em nosso website, nós qualificamos a vacina de gripe como “ineficaz”: (Vacina da gripe é ineficaz na prevenção da doença, conclui estudo da Cleveland Clinic). Nós poderíamos, sem sermos desonestos intelectuais, já termos mencionado, na manchete, que a eficácia foi negativa. Já fizemos isso ao noticiar estudos da própria Cleveland Clinic com as vacinas COVID-19. Mas preferimos ressaltar que é apenas ineficaz na prevenção, em vez de falarmos que a eficácia é, na verdade, negativa, afinal, o estudo é sólido, mas é apenas o primeiro mostrando eficácia negativa da vacina da gripe, diferentemente das vacinas COVID-19.

2 – A segunda coisa a se reparar, sendo a mais ilustrativa delas, é que no primeiro e-mail parecia que a Cleveland Clinic, em seu comunicado, estava desdizendo o que o estudo concluiu: “os resultados não sugerem que a vacinação aumenta o risco de gripe”, citou a jornalista no e-mail para nós. Quando apontamos ser estranho, ela trouxe a comunicação completa, onde a Cleveland Clinic afirmou: “A revisão dos dados mostrou que a incidência de influenza foi maior entre os vacinados do que entre os não vacinados”. Ou seja, a jornalista omitiu parte importante da declaração, escolhendo a que mais convinha com a narrativa que o Comprova estava querendo emplacar.

Na sequência, vimos que já estava publicada a suposta checagem no site do Comprova. Vimos também que foi feito em conjunto com O Estadão, que não respondeu uma checagem prévia do MPV. Entramos em contato:

17 de Abril

Oi Mariana, agora faz sentido.

Eles falaram que não pode generalizar para todos os outros grupos e todos os anos.

1 – Nós deixamos claro qual é a temporada no texto: 2024 e 2025.

2 – Deixamos claro que foi apenas em profissionais de saúde, a maioria adultos relativamente saudáveis.

Mas algo me chamou a atenção aqui. Foi feito pelo Estadão em conjunto com o seu jornal:

Estudo sobre eficácia de vacina da gripe não conclui que imunizante aumenta o risco da doença : Projeto Comprova

Nós temos um questionamento que fizemos em uma checagem nossa com o Estadão e ainda não nos responderam. Pode ajudar?

Checagem de fatos: leia os e-mails que o MPV enviou ao Estadão e não foram respondidos

Obrigado

A jornalista respondeu. Ela foi atenciosa e solícita:

17 de Abril

Só para eu entender direitinho. Posso acrescentar no material que produzimos que essa é a resposta de vocês?

“1 – Nós deixamos claro qual é a temporada no texto: 2024 e 2025.

2 – Deixamos claro que foi apenas em profissionais de saúde, a maioria adultos relativamente saudáveis.”

Sobre sua tentativa de contato com o pessoal do Estadão Verifica, vou informá-los que está mandando e-mails e passar seu endereço para eles, ok?

Att, Mariana,

Respondemos à oferta dela, e reforçamos o pedido de resposta da checagem anterior que fizemos. Claro, já apostando que nunca responderiam. Mesmo com ela parecendo bastante confiante e solícita:

17 de Abril

Oi Mariana,

Acho que nem precisa. Seria superficial demais e o assunto merece muita atenção. Faremos ainda, sobre essa checagem, uma análise bem profunda para incluir em nosso website. Acreditamos que podemos ser bem didáticos e isso será importante para todos os profissionais de saúde associados, além do público em geral, com interesse na área, que acessa nosso website.

Sobre o Estadão Verifica, se puder informá-los, ficamos agradecidos.

Obrigado

A jornalista respondeu:

19 de Abril

Só pra deixar claro:

Por enquanto, vocês não vão mandar nenhum tipo de pronunciamento para incluirmos no material, certo?

Sobre o Estadão Verifica, já avisei ao pessoal  sobre sua tentativa de contato.

À disposição. Obrigada.

Att, Mariana.

A checagem do Comprova

Aqui vamos analisar a checagem publicada pelo Comprova/Estadão. Ela saiu em diversos websites, como o da UOL: Estudo não conclui que vacina da gripe aumenta o risco da doença

Vamos às principais afirmações do texto. Primeiramente, sobre a eficácia na transmissão da doença:

Segundo os autores, o estudo tem limitações e os resultados não concluem que a vacina aumenta o risco de gripe, mas sim que, no grupo restrito analisado, a eficácia do imunizante foi de -26,9%.

Leia novamente a frase acima: “não aumenta o risco de gripe, mas foi eficácia -26,9%”. Não sabemos quem escreveu isso, mas no momento que escreveu, a pessoa, no mínimo, deveria ver que não faz sentido. Isso é igual à frase humorística “morreu, mas passa bem”. 

A pessoa que escreveu este parágrafo, absolutamente incoerente, deveria, no mínimo, ter consciência que simplesmente não possui capacidade de checar isso.

Ou seja, segundo o Comprova, não aumenta o risco, mas quem tomou a vacina teve, de fato, mais chance de desenvolver a doença! 

No segundo trecho importante da checagem, eles afirmam: “O artigo avaliou a incidência de gripe, e não a gravidade ou nível de hospitalização pela doença, o que historicamente a vacina costuma reduzir”.

Para reforçar este pensamento, eles consultaram Melissa Palmieri, a vice-presidente da regional São Paulo da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm).

“A grande riqueza da vacina é prevenir casos graves e mortes”, afirmou a especialista. Ela ainda fez um complemento: “Pegam um estudo, dentre milhares que mostram a segurança e eficácia (da vacina), e fazem uma descontextualização da importância da vacinação contra a gripe”.

Em nossa correspondência seguinte, pedimos esclarecimentos:

19 de Abril

Prezada Mariana, boa tarde.

Realmente, o texto já foi para o ar, já replicado em diversos meios (incluir nossas respostas apenas no site do Comprova não adiantaria muito), e são diversos pontos a abordar, não só esses dois. Preferimos uma análise mais profunda em nosso website.

Nós lemos com atenção profunda à checagem. Com o objetivo de transparência, esclarecimento aos nossos associados, o público em geral e profissionais de saúde que acessam nosso website, temos um questionamento primordial:

O Comprova ouviu Melissa Palmieri, vice-presidente da regional São Paulo da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm). Ela foi contundente: “A grande riqueza da vacina é prevenir casos graves e mortes. O ideal é que se olhasse os desfechos graves”. Ela ainda fez um complemento: “Pegam um estudo, dentre milhares que mostram a segurança e eficácia (da vacina), e fazem uma descontextualização da importância da vacinação contra a gripe”.

Contudo, essas duas afirmações, de vital importância, não vieram acompanhadas de link para estudos que sustentam as afirmações, de que as vacinas de gripe, historicamente, são bastante eficazes.

A última evidência em grau máximo que conhecemos da vacina da gripe é a sexta revisão Cochrane, considerada o “padrão ouro” das evidências de eficácia, feita pelo maior centro de medicina baseada em evidências do mundo, a Cochrane Center em Oxford. A conclusão dos autores é clara: “A certeza das evidências para as pequenas reduções nas hospitalizações e afastamentos do trabalho é baixa”. Ou seja, em outras palavras, viram uma redução baixa (exatamente de 14,7% para 14,1%) mas a qualidade das evidências não os deixa bater o martelo que realmente há uma eficácia.

Lembrando que, na revisão, foram avaliados 52 ensaios clínicos com mais de 80.000 pessoas, todos, conforme explicam os renomados autores, “ensaios clínicos randomizados (ECRs) ou quase randomizados”, de alta qualidade. Sendo, portanto, não possível um cherry picking. 

A revisão está aqui:  Vaccines for preventing influenza in healthy adults

Além disso, eticamente, os revisores informam que 15 dos estudos incluídos foram financiados pela indústria, com interesse na venda dos produtos, o que deixa ainda mais dúvidas sobre esta eficácia marginal encontrada.

Introduzido o assunto, pode, por favor, o Comprova nos enviar o link do estudo que afirma a alta eficácia? Claro que, em algum nível tão bom quanto o da Cochrane.

Com o objetivo de sermos absolutamente claros, precisos, levarmos a informação correta aos leitores e éticos na saúde pública, desde já, ficamos agradecidos e aguardamos. Obrigado.

O Comprova não respondeu. Passados três dias, insistimos:

22 de abril
Boa tarde, Mariana,

Recebeu o nosso pedido para o link do estudo que sustenta a afirmação de vocês? Temos interesse em informar corretamente nossos associados.

Obrigado

Passados mais seis dias, insistimos novamente:

28 de abril

Boa tarde, Mariana.

Já faz nove dias que pedimos o estudo que sustente a eficácia das vacinas de gripe contra hospitalizações e mortes. 

Estranha esta demora. Já conseguiu o link pra gente com seus especialistas?

Outra coisa: já conseguiu o contato com o pessoal do Estadão Verifica para que eles nos enviem o outro estudo da checagem anterior?

Ressaltamos que é um assunto muito importante, que envolve saúde pública, e nossa preocupação principal no MPV é fornecer para nossos associados e leitores informações absolutamente precisas.

Obrigado

Virou o mês e insistimos novamente:

5 de maio
Boa tarde, Mariana,

Seguimos aguardando a resposta antes de publicarmos a análise.

Obrigado

Passaram-se mais de 40 dias e voltamos a insistir. Queremos deixar claro:

9 de junho

Olá Mariana, estamos no dia 5 de junho.

O nosso pedido para você enviar as evidências científicas das afirmações contundentes que fez em sua checagem de fatos, nos difamando, já tem mais de 40 dias. Você não enviou. Falta de tempo, certamente, não foi, certo?

E para te lembrar: qual era a afirmação crucial da checagem? “A grande riqueza da vacina é prevenir casos graves e mortes”, dita por Melissa Palmieri, da SBIM, a especialista que consultou como referência. A afirmação dela foi sustentada e publicada por vocês.

Nós entendemos seu ponto nessa checagem, Mariana. Você estava animada com seu jornalismo, partindo do princípio de que reduzir ou não infecções não importa muito. E o que realmente importaria seria a redução de hospitalizações e mortes.

Deste modo, nós do MPV, portanto, estaríamos sendo canalhas em criticarmos essas vacinas por questões que nem são importantes, já que ela é eficaz em relação à redução de mortes.

Nós sabemos o que aconteceu, Mariana. Você enviou o pedido para a SBIM, os especialistas que confiou, pedindo as evidências para terminar de nos desmascarar, sem deixar pedra sobre pedra. Na sequência, você aguardou as evidências e não as teve. Sabe por que não teve, Mariana? Porque essas evidências não existem.

Assim como você foi animada, esperando honestidade, pediu para seus parceiros do Estadão que nos respondessem à checagem anterior e constatou que também não responderam. Sabe o motivo de ficarem mudos, Mariana? Explicamos: eles inventaram um estudo que desacredita um medicamento barato, genérico e sem patentes. E agora eles não possuem a coragem de assumirem que inventaram o estudo.

Depois de um choque, você viu que não tem mais como alterar a checagem difamatória ao MPV, formado por médicos éticos e comprometidos.

Talvez tenha até levado a situação para seus chefes e foi ordenada a ficar quieta, a deixar esse assunto de lado.

No fim das contas, Mariana, você teve a aula de jornalismo mais importante da sua vida, que professor nenhum te ensinou. Você aprendeu que não fez jornalismo. Aprendeu que fez apenas uma peça de propaganda.

Comentários finais MPV

A jornalista Mariana Carneiro, em sua interação com o MPV, demonstrou inicialmente o que parecia ser um interesse legítimo em praticar jornalismo de checagem. Sua disposição em intermediar contato com o Estadão Verifica, de uma checagem anterior nossa, sugere que ela acreditava, de boa-fé, estar lidando com um simples problema de comunicação, e não com uma narrativa fabricada por veículos comprometidos. 

Ao abordar a publicação do MPV sobre o estudo da Cleveland Clinic, Mariana partiu do pressuposto de que estávamos distorcendo dados para atacar vacinas, enquadrando-nos no rótulo simplório de “antivacinas”. Provavelmente, imaginou que, com argumentos sólidos e declarações de “especialistas”, conseguiria “desmascarar” nossa abordagem.

No entanto, seu maior erro foi confiar cegamente no discurso de que “vacinas de gripe previnem casos graves e mortes”, reproduzido sem crítica a partir da fala de Melissa Palmieri, da SBIm. Mariana ignorou que, se as vacinas realmente tivessem alta eficácia na redução de mortes e hospitalizações, o MPV jamais as descreveria como “ineficazes” — pois, nesse cenário, mesmo sem prevenir infecções, elas seriam uma ferramenta válida de saúde pública. O problema é que a 6ª Revisão Cochrane desmonta essa narrativa ao apontar “baixa certeza” nas evidências sobre redução de hospitalizações e nenhum impacto significativo na transmissão. Isso não justificaria omitir dados cruciais do estudo da Cleveland Clinic, como a declaração completa da instituição: “A incidência de influenza foi maior entre os vacinados do que entre os não vacinados”. Essa omissão não foi acidental. Ao focar apenas em “casos graves”, Mariana e o Comprova escolheram esconder a eficácia negativa (-26,9%), que tecnicamente indica maior risco para vacinados.

A jornalista, ao se deparar com a Revisão Cochrane — o padrão-ouro da medicina baseada em evidências —, que analisou, historicamente, 52 ensaios clínicos e concluiu não haver impacto significativo da vacina na prevenção de hospitalizações ou transmissão, provavelmente enviou o material aos “especialistas” que consultou. O silêncio deles diante de evidências tão robustas provavelmente a colocou diante de uma realidade incômoda: não estava “checando fatos”, mas servindo como garota propaganda da indústria farmacêutica. A SBIM, patrocinada por fabricantes de vacinas, ao não responder ao pedido de estudos que comprovem a “alta eficácia histórica” da vacina, escancarou sua falta de compromisso com a verdade. Porque, realmente, essas evidências não existem.

Além disso, a pressa em publicar a checagem em 24 horas, sem permitir uma resposta completa do MPV, revela que o texto já estava pré-formatado. Não havia espaço para diálogo ou revisão de viés: o objetivo era descredibilizar, não informar. Quanto à crítica de que o estudo da Cleveland Clinic é um pré-print, trata-se de uma falácia. A instituição é um centro de referência global, e seu rigor metodológico é incontestável. Além disso, estudos como o de Brierley et al. (PLOS Biology, 2024) mostram que revisões por pares raramente alteram conclusões principais de abstracts e quase nunca alteram os dados. A desqualificação de pré-prints é seletiva: quando convém à narrativa lucrativa da big pharma, até estudos em andamento e não revisados são usados, como ocorreu amplamente durante a pandemia.

Mariana, em sua ingenuidade, teve a aula mais importante de sua carreira: percebeu que projetos como o Comprova não existem para buscar a verdade, mas para proteger dogmas. O MPV seguirá denunciando essas práticas, pois nossa lealdade é à ciência de verdade, baseada em dados, não à frases prontas de opinião motivadas a interesses escusos ou narrativas encomendadas. Enquanto houver omissões, manipulações e silêncios cúmplices, estaremos aqui para lembrar: a saúde pública merece transparência, não propaganda e submissão aos interesses das megacorporações.


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Redação MPV

Equipe de jornalismo do MPV - Médicos Pela Vida, uma associação médica com milhares de associados que se notabilizou no atendimento da linha de frente da COVID-19.

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