Editorial: FDA suspende vacina da chikungunya e confirma nossos alertas

Quando alertamos, fomos os únicos. Agora, a realidade se impõe.
Foto: Paulo Pinto/Agência Brasil.

Em abril deste ano, o Médicos Pela Vida alertou: a aprovação da vacina contra a chikungunya pela Anvisa não se sustentava em ciência sólida. Criticamos, à época, a ausência de ensaios clínicos randomizados e duplo-cegos, o uso de marcadores substitutos sem validação em humanos, e os riscos inerentes a um imunizante de vírus vivo atenuado. Fomos, é preciso dizer, a única instituição brasileira a levantar esses pontos de forma clara e pública.

Quatro meses depois, os fatos se impõem. A FDA, uma das principais agências reguladoras do mundo — tantas vezes criticada por decisões questionáveis, mas que desta vez agiu com prudência — suspendeu a vacina desenvolvida pelo Instituto Butantan em parceria com a farmacêutica francesa Valneva, alegando risco à saúde. O órgão relatou 32 eventos adversos graves e três mortes, algumas confirmadas por PCR como decorrentes da própria cepa vacinal. Entre as complicações, casos de encefalopatia, encefalite e meningite.

O paralelo é inevitável: o desleixo que o MPV denunciou agora é realidade documentada. A promessa de proteção baseada apenas em anticorpos neutralizantes se revelou extremamente frágil, e o risco previsto de doença semelhante à própria chikungunya materializou-se em quadros graves e fatais.

A questão que se coloca é simples: se uma agência internacional suspendeu o imunizante por representar risco à saúde, por que a Anvisa mantém sua aprovação no Brasil? Que responsabilidade assumirá caso brasileiros passem a sofrer os mesmos desfechos já registrados no exterior?

Este episódio expõe um problema ainda maior. No Brasil, qualquer questionamento sobre vacinas é tratado como tabu. Não se admite debate, não se avalia com rigor, não se aplica o mesmo senso crítico que norteia a boa ciência. A mídia e muitos divulgadores de ciência, que deveriam atuar como instâncias independentes de escrutínio, limitaram-se a comemorar em uníssono a aprovação da Anvisa, sem qualquer análise imparcial e crítica. O resultado é perigoso: produtos farmacêuticos são recebidos sem o devido exame, como se a mera inscrição da palavra “vacina” na caixa de um produto farmacêutico fosse sinônimo automático de segurança e eficácia.

Exemplo extremo disso é a política em vigor para as vacinas contra a COVID-19. Em agosto de 2025, o Brasil segue como o único país do mundo a obrigar a vacinação de bebês e crianças de seis meses a cinco anos de idade. Nenhum outro país adota tal medida. Nações como Reino Unido, Alemanha, Suécia, Dinamarca e Japão sequer recomendam essas vacinas para crianças saudáveis, restringindo-as a idosos ou casos específicos de alta vulnerabilidade, sempre mediante avaliação médica individual. Não se trata de falta de recursos ou descuido, mas de cálculo de risco e benefício. O vírus é o mesmo, as crianças são as mesmas. O risco supera o benefício. O que varia é a capacidade de análise crítica.

O Brasil não pode seguir como desova de produtos rejeitados no mundo, enquanto silencia qualquer discussão honesta. A saúde pública exige prudência, não obediência cega.

Diante do exposto, reiteramos nossos posicionamentos:

1- Suspensão imediata da vacina contra a chikungunya até que estudos clínicos robustos, comprovando eficácia e segurança sejam publicados.

2 – Transparência integral dos dados de eventos adversos, no Brasil e no exterior.

3 – Revisão urgente das práticas da Anvisa, que não pode se pautar por conveniência política ou comercial, mas sempre por critérios científicos que comprovem segurança, eficácia e necessidade de vacinas.

4 – Desenvolvimento de um verdadeiro senso crítico nacional sobre vacinas, baseado em ciência e não em slogans.

5 – Criação de um comitê de médicos e cientistas independentes que tragam estudos, fundamentações e eventuais questionamentos às recomendações oficiais.

6 – Fim imediato da obrigatoriedade das vacinas contra a COVID-19 em bebês e crianças brasileiras — um caso único no mundo, uma aberração sanitária que não se sustenta nem científica nem eticamente.

A ciência não se constrói sobre dogmas, mas sobre evidências. O episódio da chikungunya é um alerta claro: sem debate aberto e rigor metodológico, arriscamo-nos a transformar cidadãos em cobaias. O Brasil precisa escolher se continuará a trilhar esse caminho ou se terá a coragem de praticar ciência de verdade.


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Redação MPV

Equipe de jornalismo do MPV - Médicos Pela Vida, uma associação médica com milhares de associados que se notabilizou no atendimento da linha de frente da COVID-19.

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