Uma revisão sistemática de larga escala, considerada uma das mais abrangentes já realizadas sobre o tema, concluiu que os lockdowns e fechamentos de escolas durante a pandemia de COVID-19 nos Estados Unidos foram associados a uma gama de efeitos devastadores na saúde da população, indo muito além do vírus. A pesquisa, que representa a versão final do artigo aceito para publicação na conceituada Health Affairs Scholar (Oxford University Press), analisou exclusivamente os impactos não relacionados à transmissão ou mortalidade direta por COVID-19.
“Os confinamentos e o fechamento de escolas foram associados a efeitos prejudiciais à saúde na maioria dos desfechos analisados”, afirmaram os cientistas no estudo, liderado pela Dra. Heather L. Taylor, da Universidade de Indiana.
O estudo parte de um pressuposto crucial, já estabelecido em outras pesquisas: embora os lockdowns tenham de fato reduzido a transmissão viral, as evidências científicas mostram que eles tiveram pouco ou nenhum efeito na redução da mortalidade por COVID-19. Diante desse contexto, a descoberta de que essas mesmas medidas causaram uma “maioria” de efeitos prejudiciais em tantos outros aspectos da saúde lança uma nova luz sobre o custo-benefício real das políticas de confinamento.
A pesquisa, uma revisão sistemática que sintetiza e analisa as evidências de múltiplos estudos anteriores, funcionou como um “estudo dos estudos”. No total, 132 estudos previamente publicados e revisados por pares atenderam aos critérios de inclusão, gerando a análise de 454 desfechos únicos relacionados à saúde.
Resultados chave: um panorama de danos colaterais
Os números revelam um quadro preocupante. As medidas restritivas foram ligadas a efeitos prejudiciais em mais de 90% dos desfechos analisados em áreas críticas como:
- Saúde mental: aumento significativo de casos de ansiedade, depressão e solidão.
- Obesidade: agravamento dos índices de obesidade em diferentes faixas etárias.
- Necessidades sociais e de saúde: graves prejuízos no desenvolvimento infantil e educação.
Impacto total em áreas sociais críticas
Os dados foram ainda mais contundentes em indicadores sociais fundamentais, onde os lockdowns e fechamentos de escolas foram associados a efeitos prejudiciais em 100% dos desfechos analisados, incluindo:
- Perda de emprego
- Insegurança alimentar
- Instabilidade econômica e financeira
Populações vulneráveis: os mais atingidos
Um dos pontos mais graves destacados pelo estudo é que os danos não foram distribuídos igualmente. As análises focadas em populações vulneráveis – incluindo minorias raciais e étnicas, grupos de baixa renda e pessoas com deficiência – apresentaram uma probabilidade significativamente maior de relatar desfechos prejudiciais do que a população em geral. Isso evidencia que as políticas, embora bem-intencionadas, aprofundaram ainda mais as desigualdades sociais e de saúde.
Quem conduziu a pesquisa
A credibilidade do estudo é reforçada por sua autoria principal. A investigação foi liderada pela Dra. Heather L. Taylor, PhD, MPH, LDH, Professora Assistente do Departamento de Política de Saúde da Richard M. Fairbanks School of Public Health, uma das escolas de saúde pública mais respeitadas dos Estados Unidos.
Conclusão dos pesquisadores e recomendações
Perante os dados, os pesquisadores concluem que, ao considerar intervenções como lockdowns no futuro, os formuladores de políticas devem avaliar cuidadosamente os benefícios e os malefícios, com um olhar específico sobre como elas afetam os mais vulneráveis. O estudo finaliza com recomendações para mitigar os danos contínuos e fundamentar uma tomada de decisão mais baseada em evidências.
Comentário editorial MPV
Este espaço é de responsabilidade da associação Médicos Pela Vida e não reflete necessariamente a opinião dos autores do estudo.
As conclusões desta robusta revisão sistemática vindas de uma instituição acadêmica de alto nível trazem uma validação científica inquestionável ao que nós, do Médicos Pela Vida, sempre defendemos baseados na medicina baseada em evidência e na observação clínica na linha de frente. O exemplo irrefutável da Suécia, que rejeitou os lockdowns e confinamentos obrigatórios, já demonstrava isso ao longo da pandemia. Apesar de ter sido ferozmente atacada e difamada pela grande mídia global, a estratégia sueca resultou em um desempenho geral em mortalidade superior ao da maioria dos países europeus que adotaram confinamentos brutais, e isso sem infligir os danos colaterais catastróficos agora comprovados por esta revisão sistemática.
Desde o início da pandemia, alertamos que os lockdowns representavam uma ameaça maior à saúde pública do que o próprio vírus para vastos segmentos da população. Os dados agora publicados confirmam tragicamente nossas previsões: uma geração de crianças com desenvolvimento prejudicado, uma epidemia de doenças mentais, crise econômica, explosão da dívida pública e o abandono dos mais pobres e vulneráveis. Fica claro que, de maneira alguma, interesses menores – sejam eles econômicos, políticos ou ideológicos – podem se sobrepor ao interesse maior da humanidade e ao princípio fundamental de proteger a saúde integral das pessoas, e não apenas de um único vírus.
Este estudo é um marco. Ele enterra a narrativa de que não havia evidências sobre os malefícios das medidas restritivas. As evidências sempre estiveram lá, e agora estão consolidadas de forma irrefutável. É um chamado para que, diante de qualquer futura crise sanitária, a sociedade e as autoridades nunca mais repitam os erros de políticas únicas e brutais, que ignoraram o princípio básico de pesar riscos e benefícios de forma individualizada. A vida é multidimensional, e políticas de saúde que a fragmentam estão fadadas a causar mais sofrimento do que alívio.
