Estamos em fevereiro de 2025. Recebi uma mensagem de uma pessoa pedindo ajuda. “Sou estudante de nutrição, estou no 3º período e minha querida faculdade exige todas as vacinas pra poder fazer os estágios e eu realmente não sei o que fazer”.

Logo na sequência, um médico fez mais um relato neste sentido. Explicou que a Santa casa de São Paulo ainda está exigindo vacinas COVID dos pacientes para serem elegíveis a cirurgias. Não quer vacinar? Sem cirurgia. Morre aí.

Diversos outros lugares devem estar, neste momento, exigindo. Esta é a motivação para eu escrever este texto. Sou contra opressões inúteis. Bem, pelo menos são inúteis no ponto de vista de saúde pública, mas úteis para criar demanda para grandes corporações farmacêuticas, fabricantes dessas vacinas.

As pessoas que vão ler este artigo

Quando coloquei no título que explicaria de um jeito que até idiotas entendem, fiz uma provocação. Sim, há muitos idiotas por aí, mas sei que nem todos os leitores deste artigo se encaixam nessa categoria. Aqui, vou encontrar três tipos principais de leitores:

O primeiro grupo é formado por aqueles que já são contra essa coerção. Eles vão ler para entender melhor meus argumentos e descobrir quais referências estou usando, para que possam reforçar suas próprias posições contra essas exigências.

O segundo grupo é composto por quem nunca realmente refletiu sobre o assunto. Essas pessoas simplesmente aceitaram as imposições sem questionar, acreditando que eram para um bem maior. Talvez hoje já tenham alguma dúvida sobre a eficácia da medida, mas ainda veem como uma tentativa válida diante de um momento crítico da pandemia, marcado por tantas mortes.

O terceiro grupo é o dos que ainda apoiam essa coerção. Em geral, são pessoas que se consideram bem informadas, intelectualmente superiores, e que acreditam estar “defendendo a ciência” contra bárbaros negacionistas. Para eles, os passaportes foram baseados na mais rigorosa ciência disponível. São os que costumam chamar de “antivacina” qualquer um que tenha questionado a coerção. E são essas as pessoas que chamo de idiotas.

Você apoia isso? Então é com você que estou falando. Sim, você mesmo. Sei que não está aqui para refletir ou reconsiderar sua posição. Você está lendo apenas para tentar encontrar alguma inconsistência, algum furo lógico, e assim cantar vitória, certo?

Pois bem, minha satisfação pessoal é ver gente como você, que se acha extremamente inteligente, ficar sem palavras no final da leitura. Porque não há incoerência para apontar, nem argumento para refutar.

E eu sei que, mesmo assim, você não mudará de opinião. Admitir que aqueles a quem você chamou de malucos estavam certos? Para você, isso seria pior do que a morte.

Eu sei como você pensa

Sim, eu sei. Para você, as vacinas contra a COVID-19 representaram um pacto coletivo. E por que você pensa assim? Porque acredita que elas reduzem a transmissão do vírus. Logo, considera justo obrigar outras pessoas a tomá-las, já que, na sua visão, isso protege a sociedade como um todo. A velha ideia de “fazer sua parte para proteger os outros”.

Mas deixa eu te contar uma coisa: te enganaram. As vacinas contra a COVID-19 não impedem nem reduzem a transmissão do vírus. Ou seja, esse suposto pacto coletivo nunca existiu. Tomá-las sempre foi uma decisão puramente individual. Não faz sentido, do ponto de vista da saúde pública, obrigar alguém a se vacinar.

Sabe como te fizeram de trouxa? Quando martelaram a ideia de que tomar a vacina era um ato de empatia e responsabilidade social, não estavam se baseando em evidências científicas. Era apenas marketing. Antes mesmo das vacinas serem lançadas, em 2020, pesquisadores de Yale estudaram quais mensagens seriam mais eficazes para convencer as pessoas.

“É ainda mais eficaz adicionar uma linguagem que enquadre a adoção da vacina como proteção de outros e como uma ação cooperativa”, escreveram os cientistas no estudo. E foi exatamente isso que fizeram, sem se importar se era verdade ou não.

Aqui, você pode argumentar que ainda não provei que as vacinas não impedem a transmissão—apenas mostrei que houve uma estratégia de marketing antes mesmo do lançamento. E nisso, você tem razão.

Mas agora vem outro problema. Eu poderia te apresentar dezenas de estudos mostrando que as vacinas não reduzem a transmissão, mas sei que isso não serviria de nada. Você poderia pensar que escolhi a dedo apenas os estudos que confirmam minha posição e ignorei os demais.

Você pode pensar isso porque é exatamente assim que fazem as pessoas que tentam enganar a gente falando de “ciência”. Quem nunca viu um conspiracionista dizendo que o homem nunca foi à Lua, tentando “provar” com cálculos sobre o cinturão de Van Allen? No fim, os astronautas foram, voltaram e viveram décadas depois disso.

E do mesmo jeito que eu nunca me aprofundei lendo estudos sobre o tal cinturão de Allen, você não se aprofundou nos estudos sobre as vacinas COVID serem ineficazes para reduzirem a transmissão, isso porque muito provavelmente você tomou as vacinas e isso deixou de ser um problema para você. Só sabemos, nós dois, que o homem foi e voltou da lua, e você sabe que implantaram os passaportes sanitários, então no seu pensamento é basicamente assim: “se implantaram os passaportes, então deve ter um motivo”. 

Mas eu sei como você pensa. Você acredita que “a ciência” tem uma hierarquia e que as grandes instituições reúnem os melhores cientistas, tomando as melhores decisões. Você acredita que no meio de tanta poluição de milhares de estudos de diversos cientistas, a verdade está nas instituições Afinal, para você, quem está lá acompanhou tudo e sabe todos os detalhes.

Pois bem. Aqui está um documento de Emer Cooke, diretora-executiva da Agência Europeia de Medicamentos (EMA), respondendo a um eurodeputado e deixando claro que as vacinas não foram aprovadas para reduzir a transmissão: “Você está correto ao destacar que as vacinas contra a COVID-19 não foram autorizadas para prevenir a transmissão de uma pessoa para outra. As indicações são para proteger apenas os indivíduos vacinados”, respondeu.

“Os relatórios de avaliação da EMA sobre a autorização das vacinas destacam a falta de dados sobre transmissibilidade”, complementou.

A EMA é a equivalente europeia da ANVISA ou da FDA dos EUA. Quando pressionada por uma pergunta direta, não teve como inventar um estudo. Faltam dados.

Até mesmo aqueles que defenderam ardorosamente a campanha vacinal do jeito que foi mudaram o discurso. Agora dizem: “Mas previnem hospitalizações e mortes.”

Eu sei seu próximo argumento

Agora você deve estar pensando: “Mas ainda é um pacto coletivo! Se reduz hospitalizações e mortes, economiza dinheiro no sistema público de saúde, que todos pagam.”

Não vou entrar aqui nos detalhes sobre o real impacto dessas vacinas na redução de hospitalizações e mortes, quanto tempo essa proteção durou, ou se houve aumento de outras doenças. Isso não é problema meu. Escolhi não tomá-las.

Mas, para fins de debate, vamos assumir que sim, elas reduzem hospitalizações e mortes.

Agora você pode argumentar: “Se obrigamos as pessoas a se vacinarem, o custo para o sistema de saúde diminui para todos.”

Parece fazer sentido, certo? Mas segue comigo. Isso abre margem para proibir, por exemplo, a porção de torresmo no boteco. Ou frituras em geral—batata frita, coxinha, pastel. Todo mundo sabe que alimentos ultraprocessados aumentam o risco de problemas cardíacos, sobrecarregando o sistema de saúde.

E o álcool? Mais de 40% dos acidentes de trânsito envolvem motoristas alcoolizados. Quanto isso custa em resgates, internações e cirurgias? Que tal voltarmos à Lei Seca dos anos 1920 nos EUA? Deu super certo.

Se o critério é economizar no sistema de saúde, até onde podemos ir? Você pode argumentar que o foco deveria ser apenas doenças transmissíveis.

Então vamos falar sobre isso. No Brasil, menos de 0,5% da população é portadora do HIV. Mas entre homens gays, esse número sobe para incríveis 25%. Sim, 1 a cada 4 homens gays em São Paulo tem HIV. 

Tente aí achar a conta de custo por paciente com aids no Brasil por mês. Ninguém quer fazer essa conta e dar publicidade a ela, exatamente para não estigmatizar essa população. Atitude que eu entendo absolutamente correta.

Mas antes de continuar, uma observação: claro que estigmatizar, inclusive pela grande imprensa, criando um clima de perseguição contra quem não quer tomar vacina COVID, é bacana e ético, não é mesmo? “A burrice é autoritária. São esses burros (que não tomam a vacina) que vão parar nos hospitais, contaminar médicos, lotar unidades de saúde, e é a sociedade que paga pela burrice deles”, disse Drauzio Varella, que se acha um gênio.

E voltando aos custos da AIDS. Nos EUA, é mais fácil achar os números. Por lá, o tratamento de cada pessoa custa entre R$ 10 e 26 mil reais mensais, pelo resto da vida. No Brasil, o tratamento é fornecido gratuitamente pelo SUS.

E aí, vale tudo para economizar no sistema de saúde? Se na sua opinião idiota vale, a gente poderia, por exemplo, colocar na ilegalidade o sexo homossexual. Que tal? Tem diversos países que fazem isso. E digo, é uma campanha fácil de ser feita. A gente poderia utilizar uma uma retórica religiosa, não seria bacana?

Imagina um anúncio na televisão. A gente mostra uma criança em uma escola precária. “Devido ao pecado dos gays, não há dinheiro para dar educação a essa criança”. Você aprova o anúncio? Em pouco tempo a população começa a fazer sua parte, invadindo points LGBTQIA + com crucifixos, chamando todos de pecadores. E pelo bem da sociedade, prefeitos vão achar um jeito de fechar esses lugares “disseminadores de AIDS”.

Podemos seguir com exemplos de autoritarismo para economia em saúde pública. Que tal proibir escaladas, voos de asa delta, paraglider e todos os esportes radicais? Toda hora vemos gente acidentada com isso, com resgates difíceis, que envolvem muitas pessoas e até helicópteros. Quanto custa isso? Barato? “Enquanto não há dinheiro para a cirurgia da sua tia”, podemos escrever em um anúncio.

Não achou nenhuma inconsistência para cantar vitória? Nenhum argumento restante? Eu tenho uma solução rápida que vai te trazer conforto. Diga assim: “texto antivacina”, e volte a assistir à novela enquanto finge que a coerção nunca foi um problema.

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